Publicado em 14/08/2014Em meio a seu processo de reestruturação financeira e operacional, a Marfrig Global Foods ainda fechou no vermelho e queimou caixa no segundo trimestre, mas parece estar conseguindo recuperar a confiança dos investidores.
Antes consideradas fundamentais para baixar seu endividamento, medidas como o IPO da subsidiária britânica Moy Park passaram a ser encaradas pelo mercado como bem menos urgentes. Para analistas, a Marfrig hoje tem condições melhores de gerar caixa e reduzir dívidas mesmo sem uma eventual "injeção" proveniente da abertura de capital - que continua nos planos.
Conforme balanço divulgado ontem, a Marfrig teve prejuízo líquido de R$ 55,1 milhões no segundo trimestre, ante perda de R$ 478,7 milhões no mesmo intervalo de 2013. O resultado ficou dentro das expectativas dos analistas, mas as ações da empresa caíram 2,4% ontem na BM&FBovespa - mais que o Ibovespa, que recuou 1,5%. Em 2014, entretanto, os papéis acumulam alta de 63,5%.
"O resultado ficou bem dentro do esperado, inclusive essa geração negativa de baixa", disse um analista consultada pelo Valor. Segundo essa fonte, a companhia conseguirá alcançar o "guidance" de gerar um fluxo de caixa livre de neutro a R$ 100 milhões em 2014. No primeiro semestre deste ano, o fluxo de caixa livre foi negativo em R$ 13 milhões - patamar baixo para o histórico recente da empresa, que registrou fluxo negativo de R$ 1,5 bilhão nos primeiro seis meses do ano passado.
Em entrevista a jornalistas ontem, o CEO da Marfrig, Sergio Rial, enfatizou a "estabilidade" da empresa. "Esse é o terceiro trimestre com total estabilidade, com margens superiores a 7%", disse o executivo, citando o nível da margem Ebitda da companhia. Segundo ele, a empresa está "comprometida" e vai atingir o "guidance" de fluxo de caixa em 2014.
Os parâmetros operacionais da Marfrig melhoraram no segundo trimestre deste ano. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da empresa totalizou R$ 379,7 milhões, alta de 47,9% ante os R$ 256,7 milhões apurados em igual período de 2013. Já a margem Ebitda subiu de 6,3% para 6,3% para 7,8% na comparação.
No lado financeiro, a empresa reduziu o custo de sua dívida, de 7,9% ao ano no fim de março para 7% ao ano no fim de junho. A principal medida para essa redução foi a emissão externa de 200 milhões de libras esterlinas feita pela Moy Park. Segundo Rial, a empresa tem condições de reduzir ainda mais essa relação, a partir de um aumento da fatia do passivo de curto prazo (que vence em um ano) no endividamento total da empresa. No fim do primeiro trimestre, a dívida de curto prazo representava 11,2% do total de R$ 9,3 bilhões.
"É um patamar extremamente baixo. Acho que temos espaço para aumentar isso" disse Rial. Segundo ele, a empresa pode aumentar a participação da dívida de curto prazo, que tem taxas de juros mais baixas - entre 4% e 5% ao ano - para algo entre 15% e 20%. Essa mudança seria a partir de linhas crédito de exportação, como as ACCs.
Questionado sobre o IPO da Moy Park, que é a segunda maior produtora de carne de frango do Reino Unido e responde por 26% da receita líquida da Marfrig, Rial reafirmou que é "crível" abrir o capital da empresa no curto prazo. Durante teleconferência com analistas, porém, o executivo ressaltou que não há "pressa", ainda a empresa já tenha protocolado o pedido de IPO junto ao órgão regulador inglês. "Não vamos fazer nada simplesmente por fazer. Não temos pressa", afirmou.
No mercado, a afirmação foi interpretada como um menor necessidade de a Marfrig abrir o capital da "Me parece ser menos urgente. Como eles estão controlando bem o caixa, não há uma necessidade de fazer já", corroborou um analista. Com informações do Valor.