Publicado em 14/08/2014A morte do candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, vai alterar o quadro da corrida eleitoral, mas ainda é difícil avaliar qual será o impacto da tragédia, de acordo com cientistas políticos e analistas de mercado. De forma geral, contudo, Marina Silva, a atual candidata a vice, é tida como a sucessora natural na chapa. E sua entrada, segundo alguns deles, pode aumentar as chances de a disputa pelo Palácio do Planalto ir para o segundo turno.
Para o cientista político César Zucco, da Fundação Getulio Vargas, qualquer avaliação é prematura no momento. Ele acredita que a candidata natural a substituir Campos é a vice da chapa, Marina Silva. "Isso porque o PSB não tem nome. O vice será, provavelmente, alguém do PSB, provavelmente um articulador político. É o partido que tem estrutura. Será um xadrez interessante”, resume. Zucco imagina que a comoção com a morte súbita de Campos deva ter um efeito imediato sobre o eleitorado. "Mas no médio prazo é imprevisível. É muito difícil saber”.
Já o o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), Geraldo Tadeu Monteiro, acredita que essa emoção possa trazer votos para Marina Silva. “A comoção nacional que está sendo vista na televisão, nas ruas e nas redes sociais deve ir muito além do que era o eleitorado do Rede", diz, sob a hipótese de Marina ser escolhida candidata. “Ela pode surfar nesta onda e, inclusive, tirar votos dos outros candidatos à presidência, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB)."
Estes dois candidatos, por sua vez, não devem notar muita diferença nas intenções de voto, na avaliação de Monteiro. “Mas vai haver redistribuição nos votos. A bancada do agronegócio, por exemplo, que apoiava Campos, não deve apoiar Marina. Então ela pode perder votos deste setor”, avaliou. Em compensação, Marina poderia atrair eleitores mais jovens.
O cientista político da PUC-Rio Ricardo Ismael avalia que a candidatura de Marina seria ruim para o PT. “A Marina Silva tiraria votos de Dilma, como tirou em 2010. Com este cenário, Dilma só ganharia no segundo turno”, afirma. Para ele, Campos oferecia perspectiva nova ao debate político, para além do embate já conhecido entre PT e PSDB. “Campos estava tentando construir alternativas. A eleição deste ano era a chance de o PSB ampliar seu espaço no cenário nacional, ficando mais forte para as eleições de 2018”, continuou Ismael.
Volatilidade nos mercados
Os analistas financeiros esperam maior volatilidade nos mercados, decorrente da incerteza quanto ao quadro eleitoral e à perspectiva de mudança na política econômica. O economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, aponta que Marina Silva é vista com um perfil diferente de Eduardo Campos. “Campos tinha um perfil mais pragmático e ainda não está claro se a candidata Marina Silva deve seguir a mesma linha de política econômica.” De qualquer forma, o analista diz que a confirmação de Marina como candidata à Presidência da República pelo PSB aumenta as chances de um segundo turno.
A maior probabilidade de segundo turno também foi observada pelo diretor para mercados emergentes nas Américas do Nomura Securities, Tony Volpon, para quem a potencial candidata poderia atrair eleitores jovens e de áreas urbanas.
Em nota a clientes, Volpon afirma que a candidatura de Marina Silva receberia um “grande impulso inicial” devido à reação emocional ao falecimento de Campos. “Mas não podemos dizer se isso será grande e durável o suficiente para torná-la uma candidata competitiva, embora não possamos descartar totalmente suas chances de ir ao segundo turno.”
Em nota, o banco de investimento Brown Brothers Harriman (BBH) também avalia que cresce a possibilidade de segundo turno com a entrada de Marina no lugar de Campos. “Um segundo turno com Marina significa um resultado totalmente diferente e inesperado. No que se refere ao mercado, seria provavelmente positivo em comparação com a reeleição de Dilma, mas nem de perto tão positiva quanto à vitória de Aécio (Neves, o candidato do PSDB)”, afirma o BBH.
Na visão do banco, as chances de uma vitória de Campos eram muito pequenas. O quadro é diferente com Marina, candidata a presidente em 2010, quando amealhou 20 milhões de votos. Com informações do Valor.