Publicado em 10/11/2014Várias alas do PMDB, legenda do vice-presidente Michel Temer, movimentam-se para manter o partido no comando do Ministério da Agricultura e emplacar o próximo ministro da Pasta. Até agora, o nome mais cotado é o da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A parlamentar, porém, enfrenta o desafio de conquistar o apoio da bancada ruralista do Congresso e dos deputados do PMDB. O atual ministro, Neri Geller, trabalha para permanecer no posto. E o deputado Eliseu Padilha, integrante do grupo político de Temer, também é citado para ocupar o cargo.
Na leitura do agronegócio, o ministério perdeu força política para representar o setor e não é prioridade da Presidência da República hoje. Por isso, executivos e parlamentares da bancada ruralista no Congresso Nacional defendem um novo porta-voz para a Pasta que dê apoio ao segmento num cenário de déficit na balança comercial e preços baixos das commodities agrícolas.
"A maior dúvida é se o próximo ministro vai acabar com a lentidão na aprovação de insumos agrícolas, olhar para o etanol e garantir segurança no campo", afirmou ao Valor Gustavo Diniz, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
Justamente por conta desse quadro o nome mais citado é o de Kátia Abreu, principal liderança ruralista hoje no Parlamento. Reeleita no Senado e em seu terceiro mandato à frente da CNA, ela é a aposta mais frequente no Palácio do Planalto e entre empresários e dirigentes de entidades de classe agropecuárias. Segundo relatos, ela teria até já consultado técnicos para compor sua eventual equipe.
Kátia se aproximou muito de Dilma nos últimos anos, principalmente a partir da votação no ano passado da chamada Medida Provisória dos Portos. À época, Kátia participava de reuniões frequentes com ela e, como trabalhou pela aprovação do texto de interesse do governo, passou a ter as portas abertas no Planalto.
Sua trajetória partidária também é de aproximação com o governo. Do oposicionista DEM ela migrou para o PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e legenda que hoje é da base aliada. Desde o ano passado, no entanto, a parlamentar está no PMDB - sigla que indicou os últimos cinco ministros da Agricultura e administra a Pasta desde o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma fonte do alto escalão do ministério analisa que o PT também se interessa em vê-la ocupando a vaga, uma vez que seu suplente no Senado é petista e o partido tem a meta de ampliar sua bancada de senadores.
O Valor ouviu quatro pessoas próximas à senadora, que preferiram falar sob a condição do anonimato. Todas têm a expectativa de que ela seja a escolhida. No mínimo, disseram, a parlamentar poderá indicar uma pessoa ao cargo. Uma dessas fontes diz que Kátia Abreu agrada Dilma por terem perfis parecidos: é rígida no trato, cobra muito de sua equipe e estuda a fundo os temas.
"A senadora me disse que, se a presidente fosse reeleita, ela teria bastante chance de ser ministra", disse um presidente de cooperativa agrícola. "Faz parte do projeto pessoal dela ser ministra, mas as chances de dar errado são grandes e ela sabe disso."
Mas nem tudo corre a favor da senadora. Ela não tem apoio da Frente Parlamentar da Agropecuária, grupo político do qual se distanciou nos últimos anos e que preferia ainda vê-la na oposição ao governo. Além disso, precisa receber a adesão da bancada do PMDB da Câmara, que nos últimos anos indicou o ministro ou influenciou na escolha do nome.
Outra tendência que ganhou força após as eleições inclui o ex-ministro da Agricultura Antônio Andrade (PMDB). Ele deixou o ministério para candidatar-se a vice-governador de Minas Gerais na chapa de Fernando Pimentel (PT) e é considerado um dos responsáveis pela vitória eleitoral de Dilma no Estado. Agora eleito, vem demonstrando interesse em opinar na escolha do cargo.
Há três semanas, durante ato de campanha de Dilma em Uberaba (MG), reservadamente Andrade pediu apoio de lideranças do setor para emplacar um nome de sua confiança. Nos bastidores, especula-se que seja o atual ocupante do ministério, Neri Geller.
O atual ministro também articula sua permanência. Sojicultor em Lucas do Rio Verde (MT), ele tem o apoio de parlamentares do Centro-Oeste. Porém, não tem mandato legislativo e é considerado "tapa-buraco", segundo um influente deputado do PMDB.
Também corre por fora o deputado federal gaúcho Eliseu Padilha (PMDB). Ele é próximo ao vice-presidente Michel Temer e teria agradado Dilma por seu empenho na campanha à reeleição da presidente no Rio Grande do Sul. Procurados, os três cotados para assumir o Ministério não comentaram o assunto. Com informações do Valor.