Publicado em 08/12/2014O embate pelo comando do Ministério da Agricultura obrigou uma contraofensiva de aliados da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que já se movimentam para reforçar a indicação da pemedebista. O objetivo é neutralizar a resistência do Grupo JBS e de movimentos sociais, até que sua indicação seja formalizada. A presidente Dilma Rousseff não recuará da indicação de Kátia, que será anunciada no pacote de nomeações do PMDB.
O nome da pemedebista ainda não foi formalizado porque ela precisa ser empossada na presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), onde assumirá o terceiro mandato consecutivo. A posse ocorrerá no dia 15, e contará com a presença de Dilma. Além disso, ela será anunciada no conjunto dos nomes do PMDB, conforme pactuado por Dilma com o vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), embora Kátia (ex-DEM e ex-PSD) seja considerada uma estrangeira na sigla.
O Grupo JBS - maior doador da campanha à reeleição de Dilma - reagiu ao anúncio informal de Kátia para o ministério. Um dos executivos da empresa, líder mundial no processamento de proteína animal, Joesley Batista, reuniu-se com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para desaconselhar a nomeação da pemedebista.
O enfrentamento entre Kátia e o JBS tornou-se público em agosto do ano passado, quando o grupo lançou a campanha publicitária da Friboi, inaugurando a estratégia de conferir grife à carne brasileira. A senadora subiu à tribuna para defender os pequenos e médios frigoríficos, acusando o grupo de prática de monopólio. " Peço que todos denunciem e pressionem esse cartel, especialmente o BNDES. Que se retire essa propaganda enganosa! Não são só eles que têm carne boa, mas todos os que têm certificados municipal, estadual ou federal", protestou. Kátia lembrou que o banco de fomento concedeu crédito de R$ 7 bilhoes para o grupo empresarial.
Outro capítulo da disputa entre a senadora e o JBS envolve a substituição do secretário de Defesa Agropecuária, Ênio Marques, um dos maiores especialistas na área, pelo advogado Rodrigo Figueiredo, ligado ao grupo, que impôs seu nome. Para Kátia, esse movimento prejudicou o poder de representação dos frigoríficos pequenos e médios junto ao ministério.
Enquanto a indicação formal não vem, Kátia fica sob bombardeio. Nesse contexto, lideranças do setor movimentam-se em sua defesa. Pelo menos 25 das 27 federações estaduais ligadas à CNA, entidade presidida por Kátia desde 2008, elaboraram uma carta defendendo sua gestão. O documento será enviado para suas redes de sindicatos rurais, associações e serviços filiados ao Sistema S, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), nos Estados.
Em outra frente, executivos de grandes empresas da indústria de carnes reforçam a frente pró-Kátia. "Hoje o poder de representatividade no ministério está concentrado no JBS, que tem excelência em gestão", diz José Zeferino Pedroza, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Santa Catarina. "Tem muita gente torcendo para que a Kátia assuma e garanta igualdade de condições", completa.
Também aumenta a pressão contra Kátia em outras frentes, como movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e lideranças indígenas. Veio a público processo relativo às eleições de 2010, em que o Ministério Público Eleitoral no Tocantins acusa a senadora de fraude na campanha de seu filho, Irajá Abreu (PSD-TO), eleito deputado federal. O processo aguarda julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Sem nenhum aceno do governo, o atual ministro, Neri Geller (PMDB), fez movimentos para continuar no cargo. Mas uma operação da Polícia Federal que investiga o comércio ilegal de áreas da reforma agrária no Mato Grosso enterrou seus planos. Seus irmãos, Odair e Milton Geller, chegaram a ser presos no curso da investigação.
Procurada, a JBS diz que "nunca desaconselhou a indicação de Kátia e não tem nada contra a senadora". Com informações do Valor.