Publicado em 23/01/2015Apesar de indicar uma flexibilização da embargo da Rússia à importação de carnes da União Europeia, o acordo fechado na semana passada para que a França volte a exportar miúdos e gordura suína aos russos não é motivo de preocupação para os exportadores brasileiros, avalia o vice-presidente de suínos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Rui Vargas.
No dia 19, a França anunciou que o serviço sanitário da Rússia (Rosselkhoznadzor) suspendeu o embargo que mantinha desde fevereiro do ano passado à importação de carne suína francesa. Após meses de negociações bilaterais, os franceses voltarão a embarcar suínos vivos, miúdos e gordura de suíno aos portos russos. O embargo russo foi imposto no início de 2014 aos países da União Europeia após um surto de peste suína africana atingir o leste do continente.
Segundo Vargas, os russos sempre tiveram carência de miúdos e gordura suína, matérias-prima que são utilizadas na produção de industrializados como linguiça, mortadela, salsicha, entre outros. Portanto, o embargo a produtos alimentícios do Ocidente, imposto por Moscou em agosto passado em decorrência da crise na Ucrânia, só aprofundou a escassez desses produtos. "Eles realmente precisam e devem procurar", minimiza.
Além disso, Vargas destaca que a escassez de gordura suína não atinge apenas a Rússia. "O mundo inteiro compra para fazer produtos de maior valor agregado. O Brasil também", explica, indicando que a indústria nacional não tinha oferta suficiente para vender miúdos e gordura de suíno e se beneficiar do embargo que Moscou impôs aos europeus, EUA, Canadá e Austrália.
Em relação a outros produtos de suínos, porém, os frigoríficos brasileiros foram favorecidos com o embargo, que fez disparar as já elevadas cotações internacionais da carne suína. Até o veto, Canadá e UE dividiam com o Brasil o posto de maior fornecedor de carne suína da Rússia. Entre janeiro e junho de 2014, 33,6% da carne importada pelos russos vinha do Canadá, 29,3% do Brasil e 24,6% da Europa, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
A partir de agosto, os exportadores brasileiros se tornaram um dos raros fornecedores da Rússia. Assim, as exportações em 2014 tiveram forte incremento. Os embarques brasileiros de carne suína à Rússia quase dobraram em receita, para US$ 810,5 milhões. O volume exportado avançou 38,3%, a 186,5 mil toneladas, de acordo com dados da ABPA.
Com esse aumento, os russos se tornaram ainda mais importantes para o Brasil, e representaram metade da receita obtida em 2014 e 37% do volume exportado. Mas a euforia com os efeitos do embargo russo daria lugar à apreensão pouco tempo depois, em novembro, quando a crise econômica da Rússia se aprofundou, com a forte desvalorização do rublo e a queda dos preços do petróleo. "Somos extremamente sensíveis à Rússia. Iniciamos o ano de 2014 trabalhando com um preço alto e acabamos trabalhando com preços bem menores", admite Vargas.
O dirigente encara com naturalidade o possível fim do embargo dos russos à UE, um tema que surgiu após o acordo em torno das importações de miúdos e gordura suína. "A gente sabe que mais cedo ou mais tarde a Rússia vai acertar os pontos com eles. Esses embargos não duram muito", afirma, ressalvando que ainda não há uma sinalização "comercial" clara de que Moscou vá retirar o embargo imposto por conta da Ucrânia. Com informações do Valor.