Publicado em 12/02/2015A Austrália está dificultando a compra por estrangeiros de terras e imóveis, em uma reação aos sinais de que os investimentos chineses estão forçando uma alta dos preços das moradias e poderão prejudicar a segurança alimentar no país.
A partir de março, as compras por investidores estrangeiros de propriedades agrícolas avaliadas em mais de 15 milhões de dólares australianos (US$ 11,6 milhões) estarão sujeitas à aprovação do Conselho de Revisão de Investimentos Estrangeiros do país. O piso anterior era 240 milhões de dólares australianos.
O fisco australiano fará uma avaliação das terras agrícolas sob posse estrangeira e novas regras sobre os investimentos estrangeiros em imóveis residenciais serão delineadas nas "próximas semanas", segundo informou o governo australiano. "Os investimentos estrangeiros são importantes para nós, mas é preciso que eles atendam aos interesses nacionais", afirmou Tony Abbott, primeiro-ministro da Austrália.
O governo da coalizão Liberal-National disse anteriormente que a Austrália estaria aberta aos investimentos estrangeiros, e em 2014 assinou acordos comerciais com China, Japão e Coreia do Sul. No entanto, o setor agrícola é uma questão sensível para a base rural do Partido Nacional - fato que ficou patente quando o governo bloqueou, em 2013, um takeover de 3,4 bilhões de dólares australianos da GrainCorp pela companhia americana ADM.
A posse por estrangeiros de terras cultiváveis foi motivo de muita discussão antes das eleições de 2013, e na época três quartos da população queria uma maior restrição. No ano passado, pesquisa do Lowy Institute constatou que 56% dos australianos consideravam que havia investimentos chineses demais no país, enquanto 37% defenderam os aportes.
"O eleitorado rural teme que terras estejam sendo compradas pelos chineses com o objetivo de que toda a oferta produzida nessas propriedades seja exportada, o que provocaria distorção nos preços", diz Hans Hendrischke, professor da Universidade de Sydney. "Mas os investimentos em agricultura são necessários e o volume dos investimentos chineses na área é menor que o imaginado por muitas pessoas", afirma.
Entre 2006 e 2012, investidores chineses aplicaram 1 bilhão de dólares australianos em negócios agrícolas na Austrália, ou 2% dos investimentos chineses totais no país. Mas foram 36,8 bilhões de dólares australianos investidos na área de mineração, conforme o relatório "Desmistificando os investimentos chineses no agronegócio australiano", compilado pela consultoria KPMG e pela Universidade de Sydney.
Porém, um acordo comercial entre China e Austrália, em novembro, aumentou o interesse dos asiáticos no setor agrícola do país da Oceania. O grupo chinês New Hope pretende investir até 500 milhões de dólares australianos em fazendas australianas de leite e unidades de lácteos, como parte de um acordo com a Freedom Foods, companhia listada na Bolsa de Valores da Austrália.
Estatais chinesas também estabeleceram o Beijing Australia Agricultural Resource Cooperative Development Fund, fundo de US$ 3 bilhões destinado a aportes agrícolas.
Simon Talbot, presidente da Federação Nacional dos Pecuaristas e Agricultores da Austrália, diz que, embora os investimentos estrangeiros sejam importantes, é muito importante que o governo saiba exatamente quem está de posse de ativos agrícolas, onde e por quê. Recentemente, parlamentares recomendaram a criação de um novo banco de dados sobre os compradores estrangeiros e a implementação de uma taxa sobre as aquisições.
O Credit Suisse informou, em 2014, que investidores chineses e imigrantes recém-estabelecidos gastaram 24 bilhões de dólares australianos em propriedades no país nos últimos sete anos. O banco prevê mais 44 bilhões nos próximos sete. Com informações do Valor.