Publicado em 19/02/2015A falta de chuvas regulares em algumas regiões de Mato Grosso neste início de ano está prejudicando as condições das pastagens. Em algumas propriedades, a produção da massa do capim não agrada os pecuaristas. A queda acumulada na precipitação é estimada em 10% comparado com igual período do ano passado.
Na propriedade de Nelso Marcon, são 5 mil cabeças de gado das raças Nelore e Aberdeen-Angus. O pecuarista percebeu que as chuvas estão irregulares e menos umidade tem se acumulado no solo. A preocupação com a qualidade da pastagem começou mais cedo.
Ele conta que, em anos normais, podia se preocupar mais tarde com a seca, quando chegasse o mês de março. Agora tem que se preocupar antes, porque, mesmo que chova de agora em diante normalmente, a chuva já está escassa. De outubro a janeiro, choveu menos e de forma mais distribuída. “É aí que entram todas essas estratégias que eu faço de semiconfinamento, confinamento, irrigação, trato, cochos móveis que eu produzo aqui na fazenda também”, comenta.
Na fazenda que fica em Poxoréu, no Sul do Estado, as pastagens são a maioria de capim Mombaça. Para ter mais oferta de alimento também na estiagem, o pecuarista plantou grama Estrela Africana para o manejo rotacionado nas áreas de sequeiro. A gramínea tolera mais a falta de chuva entre os meses de abril e outubro. Para não depender apenas da água que cai do céu, o pecuarista investiu mais de um milhão de reais para garantir irrigação em parte das pastagens.
A medição pluviométrica feita neste mês de janeiro na fazenda mostra um acumulado de 192 milímetros, bem abaixo dos 326 milímetros do mesmo período do ano passado. O equipamento de irrigação, que costuma ser usado em 230 hectares da propriedade a partir de abril, só não foi acionado ainda por causa do custo extra que isso traria agora.
“Estão desligados porque nós temos chuvas um pouco escassas, mas suficientes para a pastagem. Como o custo de energia é considerável, deixamos para abril ou maio, aí entramos com a irrigação”, diz.
A capacidade de suporte gira em torno de oito animais por hectare, mas Marcon está sempre investindo em tecnologia e testando manejos diferentes para garantir e até melhorar a produtividade. Atualmente, ele mantém 180 animais confinados só para comparar o custo-benefício de cria e recria em duas condições diferentes: pasto e confinamento.
Há três anos, implantou 120 hectares onde integra pasto com eucalipto, investimentos que aumentam o custo de produção, mas o produtor espera que o preço da carne no mercado garanta o retorno. Ele acredita que daqui cinco ou dez anos, quem quiser comer carne vai ter que pagar um preço maior porque o custo de produção, ainda defasado, desestimulou o pecuarista.
“O pecuarista tradicional já está ficando fora do mercado, então tem que ter muito investimento e para ter investimento tem que ter retorno, se não a atividade não se sustenta”, afirma.
Em outra fazenda em Rondonópolis, também no sul do Estado, parte dos 1,5 mil hectares de pasto também ficou comprometida com a estiagem. Aqui, o pecuarista mantém 2 mil cabeças de gado para cria, recria e engorda, sendo que 90% do plantel é formado por Nelore e os outros 10% por Aberdeen-Angus.
Em parte dos pastos, o capim Massai não de desenvolveu como esperado, porque as chuvas foram fracas. O volume acumulado neste mês foi de 180 milímetros. Em janeiro do ano passado, foram 400 milímetros, mais que o dobro. Onde deveriam estar pastando 200 animais, não estão mais que 50. E em outro piquete de braquiária o problema é o mesmo.
O gerente agropecuário da fazenda, John Anderson Nery de Souza, explica que o capim deveria ter um volume maior de área de foliar e ter uma estatura maior, com a coloração mais verde, o que não acontece. “Se você pegar uma moita, você vai ver que junto com a brotação pequena tem muita folha em processo de amarelamento, onde ela está perdendo nutriente, a potencialidade de ofertar mais massa pra gente”, diz.
A qualidade da alimentação, principalmente das matrizes, foi reforçada com a compra de sais minerais e proteinados. Mesmo com a suplementação, os animais de corte estão engordando em um ritmo menor. Segundo o gerente, o aumenta no volume de suplementação não tem trazido o retorno a contento da conversão de carne, sendo que se poderia trabalhar com uma quantidade menor e ter um resultado igual ao que está tendo agora.
“Isso gera custo, porque você passa a ter um consumo maior de sais minerais, de proteinados e isso são produtos com valor relativamente caro e a conversão não corresponde na mesma taxa, no mesmo percentual”, conclui Souza. Com informações do Agrodebate.