Publicado em 06/03/2015Apesar de a Minerva ter fechado 2014 com prejuízo de R$ 418 milhões - ampliando a perda do ano anterior que havia sido de R$ 314,3 milhões - e das incertezas na economia, executivos da companhia mostram otimismo em relação ao desempenho para este ano. Na quarta-feira à noite, pouco antes de divulgar seus resultados no quarto trimestre e em 2014, a empresa de carne bovina informou um guidance para sua receita líquida entre R$ 9,5 bilhões e R$ 10,5 bilhões este ano. Isso significa alta de 35% a 50% em relação à receita líquida de 2014, que foi de R$ 7 bilhões, sem considerar os efeitos proforma das recentes aquisições (unidades em Mato Grosso e no Uruguai).
Ontem, em entrevista, o diretor-presidente da Minerva Fernando Galletti de Queiroz, disse que a empresa decidiu informar um guidance para a receita líquida este ano por conta da preocupação existente no mercado hoje em relação às exportações brasileiras de carne bovina. "O mercado está preocupado com a redução do volume de exportação. Mas, na estratégia da Minerva, tudo continua dentro dos ventos normais. A exportação continua dentro do resultado esperado", garantiu
De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC), as exportações de carne bovina in natura do Brasil caíram 34,7% em fevereiro, para US$ 327,5 milhões. Em volume, a retração no período foi de 33%, para 76 mil toneladas.
A estimativa da Minerva para a receita líquida teve como base um dólar a R$ 2,80, crescimento orgânico e consolidação das aquisições realizadas nos últimos 12 meses, incluindo a do Red Carnica, na Colômbia, ainda não finalizada.
Segundo Galletti, a redução da oferta de carne bovina em outros países exportadores, como a Austrália, deve favorecer as vendas da América do Sul. Ele admitiu que os mercados da Venezuela e da Rússia devem continuar a sofrer, mas previu avanço nas vendas ao Extremo Oriente e Sudeste Asiático. Afirmou ainda que a Rússia está retomando as compras, mas reconheceu que o país deve adquirir, a partir de agora, cortes mais baratos.
Em 2014, as exportações da Minerva totalizaram R$ 4,852 bilhões, 24,4% mais do que em 2013, reflexo da demanda crescente e menor oferta no mercado internacional, segundo a empresa. O montante equivale a 65% da receita bruta de R$ 7,454 bilhões da empresa em 2014.
E a companhia continuará a apostar nas exportações neste ano, até como forma de se defender de um desaquecimento do mercado interno e do custo mais alto do boi. "O mercado interno deve sofrer um pouquinho mais, mas a exportação está mais favorável. E como há menos concorrentes, temos maior poder de precificação".
A maior parte do prejuízo da Minerva em 2014 ocorreu no último trimestre do ano, quando a empresa teve perda líquida de R$ 312 milhões. No mesmo trimestre de 2013, o prejuízo fora de R$ 124,6 milhões. Segundo a empresa, o resultado refletiu principalmente o impacto da variação cambial sobre a dívida, que totalizou R$ 250,9 milhões. Ajustado pelos efeitos da variação cambial, pagamento de IR e CSLL e pela reversão do item não recorrente relacionado ao Refis, o resultado líquido do ano seria de um lucro de R$ 156 milhões, conforme a companhia.
Já o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado (por itens não recorrentes) da Minerva em 2014 ficou em R$ 760,3 milhões, 37,9% maior que em 2013. O resultado considera os números proforma da unidade de Carrasco, no Uruguai, e das plantas de Várzea Grande e Mirassol D'Oeste, em Mato Grosso. Já a margem Ebtida ajustada da empresa ficou em 9,5% no ano passado, ante 10,1% em 2013.
Além da alta do custo do boi e de itens não recorrentes, o Ebitda da Minerva também foi impactado pelas operações das plantas do Mato Grosso (Várzea Grande e Mirassol D'Oeste), que tiveram margens ainda inferiores às da Minerva, e do início das operações em Janaúba, que estava em "processo inicial de ramp-up operacional".
Em teleconferência com analistas, ontem de manhã, Galletti, e o CFO Edison Ticle, destacaram o fluxo de caixa livre positivo de R$ 158,6 milhões que a empresa obteve no quarto trimestre de 2014. Eles afirmaram que a companhia pretende continuar crescendo na América Latina este ano, mas na ausência de ativos interessantes para investir, a prioridade será usar o caixa para reduzir a alavancagem. "Podemos usar o caixa para pagar dívida de curto prazo", disse mais tarde Ticle, em entrevista.
A Minerva encerrou o quarto trimestre de 2014 com alavancagem (relação entre dívida líquida e ebitda) de 3,8 vezes. Um ano antes, era de 3,3 vezes. Sua dívida líquida em 31 de dezembro de 2014 era de R$ 2,828 bilhões, aumento de 53,2% em relação ao mesmo intervalo de 2013. Da dívida total da empresa, de R$ 5,326 bilhões, 13,6% são de curto prazo. Com informações do Valor.