Publicado em 03/07/2015A JBS confirmou ontem a suspensão das atividades da sua unidade frigorífica em Cuiabá (MT). Desde ontem, o abate e o processamento de carne bovina estão paralisados e cerca de 500 empregos foram eliminados. Conforme a multinacional brasileira, a decisão de encerrar o funcionamento da filial cuiabana se deve à baixa disponibilidade de matéria-prima – nesse caso bovinos prontos para o abate - em algumas regiões do país, inclusive no Estado, escassez que tem provocado um sistemático aumento da ociosidade na indústria. Mato Grosso detém o maior rebanho de bovinos do Brasil, com cerca de 28,5 milhões de cabeças.
A JBS esclarece que mantinha 494 colaboradores e que está oferecendo “a todos a possibilidade de transferência para outras unidades tanto em Mato Grosso quanto em outros estados. Para aqueles que não aceitarem a transferência, a JBS promoverá o desligamento e a consequente indenização trabalhista, dentro da legislação vigente”.
A decisão de suspender as atividades da unidade, como reforça a companhia por meio de nota, havia sido devidamente comunicada ao sindicato representativo da região, no caso o sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Cuiabá e Várzea Grande. A JBS ainda mantém em operação 12 unidades de abate de bovinos em Mato Grosso.
Mesmo reforçando sua presença no Mato Grosso com 12 unidades em funcionamento, o encerramento desta planta é o segundo realizado no Estado pela JBS, em quase 60 dias. No início de maio a unidade JBS Friboi de São José dos Quatro Marcos também teve os abates suspensos sob a mesma alegação de falta de matéria-prima. Naquele momento mais de 700 pessoas estavam empregadas no frigorífico.
De acordo com o Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo/MT), existem 43 frigoríficos no Estado, mas desse total, 18 já encerraram as atividades nos últimos 24 meses. O prejuízo para a cadeia produtiva da bovinocultura, bem como o impacto econômico das cidades diretamente atingidas ainda não foi contabilizado ou pôde ser mensurado.
Mas a escassez de bovinos deverá persistir ao longo do ano. Conforme levantamento realizado trimestralmente pelo IBGE, desde o ano passado o número de animais abatidos vem recuando a cada novo estudo. E 2015 não tem sido diferente. O ano começou com retração nos abates. No acumulado dos primeiros três meses do ano (dados mais recentes divulgados pelo IBGE), o recuo foi de 13,4% quando comparado ao mesmo período do ano passado. O saldo mato-grossense desse trimestre é quase o dobro da redução registrada em nível nacional, que foi de 7,7%. Mesmo com um desempenho negativo, o Estado segue líder no envio de bovinos aos frigoríficos.
Conforme dados apurados pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), por meio dos registros feitos pelo Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea/MT), Mato Grosso oferta em 2015 o menor estoque de bovinos machos, com mais de 24 meses, dos últimos nove anos. Esses bovinos nessa faixa etária é que movimentam as escalas de abate dos frigoríficos e que preenchem a capacidade instalada das plantas.
Como destaca a Acrimat, os números da segunda etapa da vacinação contra febre aftosa, realizada em novembro do ano passado em animais de todas as idades, revelam que o estoque de animais machos prontos para abate é 3,9 milhões de cabeças. Esse resultado é reflexo do grande volume de matrizes encaminhadas para o abate entre os anos de 2011 e 2013, estratégia que comprometeu a oferta de animais para reposição nos anos seguintes.
A pedido da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) trabalhou em uma perspectiva para o curto prazo, para os próximos dois anos. Os resultados revelam que a oferta de boiadas deve melhorar no ano que vem, mas que o grosso dos animais disponíveis para abate chegará somente em 2017.
O superintendente da Acrimat, Olmir Cividini, conta o estoque para 2016 tende a aumentar, porém, ainda de forma contida, alcançando 3,96 milhões de cabeças, representando um acréscimo de 1,6% em relação a 2015. Já para 2017 a expectativa é que haja um maior estoque de animais aptos ao gancho, ultrapassando 4 milhões de cabeças.
O estudo lembra que a partir de 2013 o clima favoreceu a produção de forragem e deu condições para que fatores como reprodução e produtividade fossem determinantes para o bom desempenho dos animais, fatores que devem validar as projeções. Com informações do Diário de Cuiabá.