Publicado em 18/04/2016O Paraná está perto de ser considerado área livre de febre aftosa sem vacinação, o que causa preocupação em produtores. A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) anunciou no último dia 9 que as campanhas de vacinação contra a doença devem cessar, ainda que a aplicação continue em 2016, enquanto as barreiras físicas à doença não são implantadas. A medida visa abrir mercados internacionais para a carne bovina e suína do Estado, que já tem o status de área livre, mas ainda usa vacina que poderia mascarar a presença de vírus no rebanho.
A Sociedade Rural do Paraná (SRP) protocolará nos próximos dias um pedido ao governo do Estado para que reconsidere o fim da vacinação. São dois estudos que apontam que há grande risco com o fim da vacinação, principalmente porque são 2,360 mil quilômetros de fronteiras com Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraguai e Argentina que exigiriam constante monitoramento do trânsito de animais silvestres e no transporte de vivos.
Ainda, o relatório cita que não há garantias de ganhos em receita e em mercados com o fim da vacinação, que o Paraná ficaria ilhado em relação a regiões de engorda e criação de bezerros, como o Centro-Oeste, e que seria necessário um esforço da União, e não individual, para que a iniciativa desse certo. "O Brasil é importador e exportador de raças e fechar as fronteiras locais não vai fortalecer o mercado, mas gerar prejuízo na seleção", diz o presidente da SRP, Moacir Sgarioni. Ele lembra que 35 entidades assinam o pedido.
Para o diretor presidente da Adapar, Inácio Kroetz, a decisão pode não agradar a alguns produtores de bovinos, mas é preciso enxergar a cadeia como um todo. "Seria bom principalmente para os produtores de suínos, que se beneficiariam sem a vacinação. E somos hoje o nono Estado exportador de bovinos e o terceiro de suínos", afirma.
Estrutura
Recém-chegado da reunião da 43ª Comissão Sul-Americana para a Luta contra a Febre Aftosa (Cosalfa), em Punta del Este, Uruguai, o assessor técnico da Federação Agrícola do Paraná (Faep) Antônio Poloni diz que existe a percepção de que a vacinação é definitiva no Brasil, mas que depende apenas de estruturas física e sanitária para barrar a doença. "O caminho é continuar a discussão, porque o caminho para o industrial e o produtor tem de ser o Estado livre sem vacinação. O contrário seria um retrocesso", sugere.
Ambos os lados usam o exemplo de Santa Catarina, hoje o único a ser livre sem vacinação, mas com percepções diferentes. "Santa Catarina gasta uma fábula para manter as fronteiras sanitárias (físicas) e o retorno em valores não compensa o gasto", diz Ricardo Pulzatto, diretor da Sociedade Rural de Maringá e conselheiro da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). "Santa Catarina fechou as fronteiras em 2001 e a primeira grande exportação foi só em 2013", completa.
Poloni lembra que os catarinenses tomaram a decisão sozinhos, sem consenso com outros estados, e que precisaram arcar com mais custos. "Mas pergunte a eles se querem voltar, agora que vendem à Rússia", diz o assessor da Faep, sobre o maior exportador de carne suína. "Não é uma garantia de mercado, mas dá a condição de se habilitar para Estados Unidos, Japão e todos os outros", completa. Com informações da Folhaweb.