Publicado em 10/10/2016Em refrigeradores de supermercados cheios de carnes orgânicas e produzidas a partir de animais alimentados apenas com capim, cortes “de origem única” estão causando uma nova febre entre os consumidores. Nos Estados Unidos, varejistas como o Whole Foods Market Inc., FreshDirect, e Amazon.com Inc. estão construindo operações que levam animais direto das fazendas aos supermercados para satisfazer os desejos de alguns consumidores de rastrear a origem de seu hambúrguer ou bacon e saber detalhes do animal que forneceu a carne.
“Eles querem saber de onde veio o animal, onde nasceu, onde cresceu, onde foi abatido”, diz Rick Stein, diretor de alimentos frescos da associação americana de supermercados Food Marketing Institute.
Outros varejistas, como a Honest Beef Co., estão fornecendo cortes diretamente aos consumidores, eliminando frigoríficos intermediários e redes de supermercados e abrindo nova concorrência a empresas tradicionais de entrega pelo correio, como a Omaha Steaks International Inc.
Hannah Raudsepp, que tem 26 anos e é a fundadora da Honest Beef, compra gado diretamente da fazenda de sua família em Nebraska Sandhills. Ela paga um pequeno abatedouro nas proximidades para matar os animais, cortar e maturar a carne, um de cada vez. Então, cada carcaça é combinada com pedidos on-line, e a carne enviada diretamente para os consumidores, que fazem encomendas de pelo menos US$ 85 em bifes e hambúrgueres que tenham origem “de um único animal”.
Essas iniciativas têm na mira processadores industriais de carne como a Cargill Inc. e a Tyson Foods Inc., TSN 3.37 % empresas que operam um sistema de distribuição centralizado ligando centenas de milhares de pecuaristas em todo o país com varejistas e distribuidores de alimentos.
Há bem pouca chance de que os vendedores de carne de origem única, como a Raudsepp, prejudiquem os negócios das quatro grandes empresas, que absorvem cerca de 80% de todo o gado americano e produzem cerca de 8 milhões de toneladas de carne bovina anualmente. Construir uma rede de abastecimento de carne de um único animal é um processo caro e complexo. As vendas de carnes com o rótulo “minimamente processada” totalizaram US$ 1,3 bilhão nos EUA no ano passado. É uma fração das vendas da indústria de carne bovina e de frango, que somam cerca de US$ 200 bilhões anuais no país.
Os clientes devem estar dispostos a pagar um preço elevado por esses cortes. Os preços da carne moída maturada giram em torno de US$ 19 por quilograma na Honest Beef (além do preço mínimo do pedido). A carne moída tradicional nos supermercados americanos custava em média US$ 9,45 por quilo em agosto, segundo dados mais recentes da agência de estatísticas do governo. Analistas dizem que os vendedores de carne de origem única estão atendendo a demanda de um tipo de carne vista pelos consumidores como produzidas de forma mais ética.
As vendas de carne convencional no ano passado cresceram menos de 3%, ante um avanço de 12% da carne com o rótulo “natural” e um aumento de 23% nas vendas de carne “livre de antibióticos”, afirma a empresa de dados Nielsen.
“Toda essas exigências estão aumentando como parte de uma ênfase crescente na saúde e bem-estar”, diz Mike Olson, diretor associado de clientes da Nielsen Perishables Group.
A rede de supermercados de alimentos naturais Whole Foods investiu em fazendas e unidades frigoríficas para atender a demanda por carne “produzida a partir de um único animal” porque atualmente são poucas as fazendas existentes, diz Theo Weening, comprador global de carne da varejista.
Seis anos atrás, a empresa comprava 20 suínos por semana da Thompson Farms em Dixie, no Estado da Georgia. A Whole Foods forneceu empréstimos para a fazenda e frigoríficos para elevar a produção e agora ela recebe 120 animais por semana.
“Se não fosse por nós, eles não estariam no negócio”, diz Weening sobre a Thompson.
A varejista de internet Amazon.com incluiu em junho a carne moída “Single Cow”, feita com carne de um único animal, entre seus produtos frescos que podem ser pedidos na divisão de supermercados de sua plataforma de varejo on-line, Desde então, ela entrou com pedido para obter a marca registrada da designação. O produto, vendido em várias regiões por cerca de US$ 10 por quilo, é descrito como sendo feito de uma mistura de cortes de músculos de vacas Wagyu criadas em um rancho na Califórnia.
Restaurantes e supermercados que processam sua carne internamente podem oferecer peças de uma “origem única”, mas a maioria dos hambúrgueres é feita de uma combinação de pedaços de carne magra e gorda extraídos durante a preparação de cortes de maior qualidade, como a alcatra. Isso significa que meio quilo de carne moída bovina comprada em um supermercado pode conter carne de centenas de animais.
“Um hambúrguer feito de um único animal não é tão comum como se pensa”, diz a porta-voz da Amazon, Nell Rona.
Tarek Farahat, presidente global de marketing e inovação da gigante mundial de carnes JBS, diz que os consumidores também estão preocupados com possíveis danos da pecuária ao meio ambiente. No caso do Brasil, principalmente com o bioma amazônico. Então, a JBS firmou um acordo com a organização de defesa do meio ambiente Greenpeace para garantir aos consumidores que os animais abatidos pela empresa não vinham de fazendas que desmatam a Amazônia nem utilizam métodos que não respeitem os direitos dos trabalhadores. Na mais recente auditoria realizada no projeto divulgada em setembro, a JBS atingiu uma conformidade de 99,97% com os critérios de um acordo com a organização de proteção ao meio ambiente Greenpeace. Com informações do Wall Street Journal.