Publicado em 28/10/2016Diante das especulações deflagradas pelo veto do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à reorganização societária da JBS, a presidente da instituição, Maria Silvia Bastos Marques, afirmou ontem que a posição do banco estatal foi tomada a partir de uma decisão técnica.
"É absolutamente inverídica esta suposição [de ingerência política na decisão]. Nossas razões foram técnicas, no interesse da empresa e pelas razões explicitadas na nota divulgada ontem [quarta-feira]", informou a presidente do banco. A reportagem apurou com outras fontes que o corpo técnico do BNDES já questionava o modelo de reorganização proposta pela empresa desde que ela foi apresentada, em 11 de maio.
As reuniões para discutir o modelo de internacionalização da JBS começaram em 3 de março e continuaram após a posse da nova diretoria, informou ao Valor a diretora de mercado de capitais do BNDES, Eliane Lustosa.
"Logo após nossa chegada ao banco, na primeira ou segunda semana, levantamos uma série de questionamentos sobre detalhes do processo. Colocamos que nos moldes apresentados pela companhia tinhamos dúvidas sobre o processo. Discutimos alternativas com a empresa e com a BM&FBovespa. Abrimos o leque tentando encontrar uma forma que atendesse critérios de valor e risco de médio e longo prazo", afirmou.
De acordo com a diretora, após "análise fundamentalistas longa e profunda" estabelecendo um diagnóstico, o banco, por carta, informou formalmente à JBS o veto à proposta da empresa em 16 de setembro, afirmou Lustosa ao Valor ontem à noite por telefone. Mesmo após a carta, o banco continuou discutindo alternativas, disse ela.
Na tarde ontem, em evento em São Paulo, Eliane afirmou que a reorganização da JBS continha vários aspectos negativos para o longo prazo. "O mercado reagiu bem mal à notícia, mas isso foi ruim no curto prazo e o papel do BNDES é pensar no melhor para os investidores no longo prazo", afirmou.
Ontem, as ações da JBS lideraram, pelo segundo dia seguido, as baixas do Ibovespa. Os papéis caíram 4,21%, a R$ 10,00. Anteontem, as ações já haviam caído 11,45%. Desde quarta-feira, a JBS perdeu R$ 5 bilhões de seu valor de mercado.
De acordo com a diretora do BNDES, há alternativas melhores do que a reorganização societária. "Tem outras formas de ‘unlock value’ [destravar valor] com impactos melhores", acrescentou Lustosa. Questionada sobres quais seriam as alternativas, a diretora da BNDES não quis dar mais detalhes.
No mesmo evento em São Paulo, o presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), Mauro Cunha, voltou a elogiar a decisão do banco. "O BNDES foi um ótimo exemplo de como pensar no investidor", disse.
Apesar do elogio de Cunha, a posição do BNDES não passou incólume a criticas. "Para ser muito sincero, não entendi", afirmou o professor e pesquisador do Insper, Sergio Lazarrini, que expressou surpresa com a decisão do banco. Reconhecido defensor da redução do tamanho do BNDES, Lazzarini também estranhou a justificativa do banco, de que a reorganização societária provocaria a desnacionalização da companhia. "Seria uma justificativa que a gente ouviria nos governos Lula e Dilma, e não nessa nova transição aí", disse.
De acordo com o pesquisador, o veto do BNDES também se baseou na avaliação de que a negociação não seria benéfica para os acionistas. No entanto, o banco estatal não apontou claramente quais seriam os riscos. "O que respectivamente o [banco] diz como risco? Porque o mercado não está percebendo", disse, citando a forte desvalorização das ações da JBS "Está ocorrendo perda de valor", acrescentou. Com informações do Valor.