Publicado em 09/03/2017A Marfrig fechou ontem sua primeira emissão externa do ano. Depois de se reunir com investidores no início da semana, captou US$ 750 milhões em bônus com prazo de sete anos. Com uma demanda de cerca de US$ 2,5 bilhões, a empresa conseguiu uma redução na taxa estimada inicialmente: o retorno para o investidor ("yield", no termo em inglês) ficou em 7,25%, abaixo de 7,5% da abertura. O cupom ficou em 7% ao ano.
A queda no custo ocorreu mesmo em um dia de piora do humor global. Dados mais fortes do mercado de trabalho nos EUA divulgados ontem reforçaram as apostas em alta de juros pelo Fed na reunião da próxima semana, o que provocou um salto nas taxas dos Treasuries, que chegou a 2,60% nos títulos de dez anos - nível mais alto desde a eleição presidencial. O prêmio de risco do Brasil medido pelos contratos de cinco anos do CDS subiu 12 pontos, para 232 pontos-base.
Segundo uma fonte a par da transação, apesar da piora do mercado, o fato de a emissão ter associado uma oferta de recompra ajudou na execução. Em relação aos papéis de vencimento mais próximo no secundário, e levando em conta a extensão do prazo, o prêmio na nova emissão foi de 5 pontos, ou seja "sem muita gordura".
Ele destaca ainda que o retorno dos investidores durante o "roadshow" foi bastante positivo, o que deu confiança ao sindicato de bancos para lançar a oferta. "A emissão atraiu muito investidor institucional, a maior parte dos Estados Unidos, além de uma parcela relevante da Ásia, e que já tinha exposição ao papel", diz.
Os recursos levantados com a emissão - liderada por BB Securities, Bradesco BBI, HSBC, Morgan Stanley e Santander - serão usados para a recompra de bônus com vencimentos em 2018 e 2020 do mercado, cujo estoque soma US$ 766,6 milhões.
Em entrevista ao Valor, o vice-presidente de finanças e relações com investidores da Marfrig, Eduardo Miron, disse que os US$ 750 milhões permitirão uma economia de R$ 50 milhões ao ano em juros, com a recompra de bônus. A economia será possível porque o cupom anual dos títulos emitidos ontem é de 7% ao ano, ante 8,375% dos bônus para 2018 e 9,5% dos papéis para 2020.
De acordo com Miron, a economia de R$ 50 milhões se somará aos cerca de R$ 300 milhões que a Marfrig deixará de pagar já neste ano em juros à BNDESPar, braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por conta da conversão em ações de debêntures obrigatoriamente conversíveis.
Ainda segundo o executivo, a emissão de ontem foi bem-sucedida, sobretudo diante das condições adversas, como alta de juros nos EUA e "ruído" em relação à economia brasileira. "Mesmo numa situação dessa, conseguimos redução material do cupom." No ano passado, a empresa captou um total de US$ 1 bilhão em bônus de sete anos com cupom de 8%. Na tranche de maio, o yield ficou em 8,25% e, na reabertura em junho, 7,625%. Com informações do Valor.