Publicado em 13/07/2017A gestora Cambuhy, a Itaúsa, holding de investimento das famílias Setubal e Villela, ligadas ao Itaú Unibanco, e a Brasil Warrant, que pertence a Pedro Moreira Salles, fecharam no início da noite de ontem a aquisição do controle da Alpargatas por R$ 3,5 bilhões.
Juntos esses veículos de investimento adquiriram a participação de 54,24% que a J&F Investimentos, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, detinha na companhia de vestuário. O negócio envolve 85,78% das ações ordinárias da empresa e 20,95% dos papéis preferenciais.
Essa é a primeira venda de ativo concluída pela J&F, que fechou um acordo de leniência com o Ministério Público, no âmbito da Operação Lava-Jato, que prevê o pagamento de multa de R$ 10,3 bilhões. A penalidade é a maior já aplicada por violações das leis anticorrupção.
O valor será pago à vista, sendo R$ 14,25 por ação ordinária - o que representa um prêmio de 25% em relação aos papéis preferenciais (R$ 11,40), de acordo com a Alpargatas. Ontem, as ações preferenciais da Alpargatas fecharam a 14,20, após alta de 1,43%. As ordinárias encerraram o dia estáveis em R$ 13,70.
De acordo com comunicado divulgado pela Itaúsa, a companhia vai pagar R$ 1,75 bilhão pela compra de 27,12% das ações da Alpargatas. O pagamento, feito com recursos de dívida a ser contratada, será realizado à vista, na data do fechamento da compra.
Os três novos acionistas vão fazer a gestão compartilhada da dona das Havaianas, depois de celebrar um acordo. O fechamento da operação ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do lançamento de uma oferta pública de aquisição de ações (OPA).
Os novos controladores consideram que a Alpargatas é dona da única marca de produto de consumo brasileira com apelo global, a Havaianas. Por isso decidiram voltar a fazer um lance pela companhia. Em 2015, quando o controle da Alpargatas foi colocado à venda, a Cambuhy perdeu a disputa para a J&F.
A avaliação deles é que a marca pode ser extrapolada para outros produtos e países, numa estratégia que de certa forma já vem sendo perseguida pela empresa.
A negociação entre as empresas foi divulgada no dia 26 de junho. No último fim de semana, a negociação emperrou. Segundo fontes a par do assunto, os compradores pediram à J&F mais esclarecimentos sobre o acordo de leniência fechado pela J&F com o Ministério Público Federal, para ter certeza que a Alpargatas não terá problemas no futuro quanto a esse assunto.
Outra questão que pesou foram as acusações, feitas pelo corretor financeiro Lúcio Funaro - preso por conta da Operação Lava-Jato - de que Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo, teria recebido propina de R$ 80 milhões de Joesley Batista para ajudar na liberação de recursos da Caixa para a compra da Alpargatas.
Em dezembro de 2015, a Caixa financiou 100% da compra do controle da Alpargatas, por R$ 2,6 bilhões, numa negociação que avaliou a companhia em R$ 6,04 bilhões. A Caixa aprovou uma linha de crédito aberta à J&F, com prazo de sete anos para pagar e dois anos de carência. O Bradesco também financiou a oferta de compra de ações dos minoritários, que totalizou R$ 499,5 milhões. A J&F alienou ações da Alpargatas e da Vigor como garantia para o financiamento.
O valor pago pelos novos controladores foi o mesmo pedido pela J&F para a venda do controle acionário. O montante também fica praticamente em linha com o que a família Batista pagou em 2015 - na época, desembolsou R$ 3,1 bilhões, considerando a compra de ações dos minoritários. Atualizado pelo CDI - taxa inferior à cobrada pelos bancos em empréstimos -, esse total equivale hoje a R$ 3,6 bilhões.
De janeiro a março, a receita líquida da fabricante de calçados e roupas caiu 18,7% na comparação com igual trimestre do ano passado, para R$ 807,5 milhões. Sem itens extraordinários, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) também foi menor.
A J&F contou com assessoria financeira exclusiva do Bradesco BBI e assessoria jurídica do Bichara Advogados na operação. Com iinformações do Valor.