Publicado em 13/07/2017Maior processadora de proteína animal do mundo, a JBS pagou propina mensalmente, durante vários anos, a cerca de 200 fiscais do Ministério da Agricultura. O "mensalinho" chegava a R$ 20 mil por servidor. O objetivo era fazer os fiscais federais agropecuários flexibilizarem a aplicação das regras sanitárias.
As informações constam de anexo à delação premiada feita pelo presidente da JBS, Wesley Batista, ao Ministério Público Federal (MPF). A relação com os nomes dos fiscais envolvidos será enviada ao MPF em até 60 dias, segundo compromisso firmado por Wesley durante o processo de delação.
Essa lista deve fornecer mais munição à Operação Carne Fraca, justamente no momento em que o setor parecia se recuperar do baque de 17 de março, quando a operação da Polícia Federal foi deflagrada e provocou uma série de embargos internacionais à carne produzida no Brasil. Nas negociações com outros países, o novo escândalo deve enfraquecer a posição brasileira e dificultar a reabertura do mercado americano de carne bovina.
A JBS tem cerca de 60 unidades de produção sob inspeção federal. E suspeita-se que o pagamento do "mensalinho" não se restrinja à companhia. No anexo à sua delação, Wesley afirma que "sempre constituiu prática corrente no mercado de frigoríficos o pagamento mensal de quantias de R$ 1 mil a R$ 20 mil para os auditores fiscais federais agropecuários do SIF [o Sistema de Inspeção Federal]".
Até o início dos anos 90, a lei permitia que os frigoríficos pagassem compensações aos fiscais a título de hora extra, uma vez que as empresas funcionam além do horário comercial. A prática foi vedada na gestão de Antônio Cabrera no Ministério da Agricultura, entre 1990 e 1992.
"Ocorre que os quadros do MAPA [Ministério da Agricultura] não dispõem de auditores fiscais agropecuários em número sequer próximo da suficiência para que os horários de funcionamento dos abatedouros frigoríficos tenham cobertura integral", disse o presidente da JBS em outro trecho do anexo à delação. Com informações do Valor.