Publicado em 08/08/2017Lenta, gradual e segura. Assim deve ser a transição do comando da JBS, com Wesley Batista deixando o cargo de CEO da companhia, sinalizou ontem o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro. Com 21,3% de participação por meio da BNDESPar, o banco estatal é o segundo principal acionista da empresa dos Batista.
Em entrevista concedida a jornalistas após participar de debate no 16º Congresso Brasileiro do Agronegócio, em São Paulo, o presidente do BNDES elogiou as habilidades de Wesley Batista como gestor, mas indicou que isso não é o bastante.
Usando uma metáfora do futebol, Rabello de Castro afirmou que Wesley é um jogador "que fez gols, mas isso não significa que o técnico vai escalá-lo no próximo jogo". Nesse sentido, afirmou que a tendência do banco é defender que Wesley Batista seja escalado em outra posição. "Um bom jogador pode mudar, no mínimo, de posição. Essa é a nossa tendência", disse. Procurada, a JBS não comentou as declarações de Rabello de Castro.
A jornalistas, o presidente do BNDES também enfatizou o papel do comitê executivo criado em junho pela JBS para assessorar o conselho de administração da companhia em decisões estratégicas. De acordo com o dirigente, esse colegiado também poderá funcionar como um "comitê de apoio ao novo CEO".
Quando a JBS criou o comitê, especulou-se que essa seria uma alternativa para Wesley manter sua posição de destaque na hierarquia da empresa. Fazem parte do comitê o próprio empresário, o presidente do conselho de administração da JBS, Tarek Farahat, e Gilberto Xandó, presidente da Vigor, também controlada pela holding J&F e que acaba de ser vendida para a mexicana Lala.
Embora tenha defendido a mudança de função de Wesley, Rabello de Castro ponderou que as alterações no comando da JBS não serão imediatas. "Temos que fazer tudo com um pouco de gradualismo, mas sem muita delonga", afirmou.
Também por isso, ele deixou claro que a saída de Wesley do cargo de CEO da JBS não será um tema de deliberação da assembleia extraordinária de acionistas que ocorrerá, a pedido da BNDESPar, em 1º de setembro, em São Paulo.
"Provavelmente isso não vai ser objeto de deliberação imediata, a menos que o sentimento dos acionistas faça prosperar essa decisão", acrescentou. Além do BNDESPar, a Caixa Econômica Federal, com pouco mais de 4% das ações, e outros fundos deverão acompanhar as posições do BNDES, indicou ele.
Apesar disso, Rabello de Castro reconheceu que, no momento, a J&F, holding da família Batista que detém 42,3% das ações da JBS, reúne as condições políticas para comandar a empresa. "Neste caso em particular, acho que o atual sócio relevante reúne mais as condições políticas para exercer essa liderança".
Questionado se a saída dos Batista seria "imprescindível" para a empresa superar as adversidades, o presidente do BNDES afirmou que isso é "quase irrelevante". O que o banco quer, na verdade, é a profissionalização da JBS, afirmou.
Nesse contexto, Rabello de Castro aprovou as medidas que já foram tomadas pela própria JBS. "A companhia já dá demonstrações inequívocas de que está se organizando", afirmou, citando o comitê executivo. Além disso, ele também mencionou a presença de quatro membros "independentes" no conselho de administração da JBS - dois deles indicados pela BNDESPar. "Só aí temos quatro conselheiros de nove", disse.
Rabello de Castro voltou a defender os investimentos do BNDES na JBS, acrescentando que as comissões internas criadas pelo banco para apurar o caso devem ser concluídas nesta semana, e não deverão apontar irregularidades. Com informações do Valor.