Publicado em 12/11/2018A quatro quarteirões do palácio presidencial no centro de Buenos Aires, um trabalhador da construção civil organiza o almoço para sua equipe de 25 pessoas. Em vez de buscar sanduíches em uma loja próxima, ele prepara duas enormes fatias de carne e salsichas assadas em um escavador mecânico adaptado.
- É um luxo que não estamos prontos para desistir. Sem isso, não podemos sobreviver - diz Carlos, um dos trabalhadores, que pagará 135 pesos (US$ 3,80) pela refeição servida sem salada nem prato.
A cena ilustra quanto os argentinos estão dispostos a se sacrificarem em meio à recessão mais longa em 17 anos. Apesar de o consumo de pães ter caído 40% em setembro, eles ainda não desistiram de comer carne bovina, um dos pratos mais populares no país. Segundo dados compilados pelo grupo industrial CICCRA, o consumo per capita na Argentina foi de 57,7 kg nos primeiros 10 meses, um pouco acima dos dois últimos anos.
- Alguns pessoas, principalmente aposentados, estão comprando menos carne, mas continuam comprando. A maioria deles parou de comprar tomates ou alface - disse Delfina Porcel, açougueiro e merceeiro do bairro de Constitucion, em Buenos Aires.
A dúvida é saber se esse consumo consegue se manter em alta, já que a economia deve encolher 2% este ano, a inflação está em cerca de 40%, o desemprego está subindo 10% e o peso caindo quase 50%. Tudo isso fez a confiança do consumidor ser a menor desde que o presidente Mauricio Macri assumiu o cargo, no fim de 2015.
- Esta crise é a pior que já vi em meus 76 anos. Muitos estão voltando a usar fornos a lenha, já que é mais barato do que usar gás natural - disse Daniel Insua, um conselheiro e ex-presidente da Western Bakeries Association. Com informações da Reuters.