Publicado em 12/08/2019Prestes a completar um mês como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o engenheiro Gustavo Montezano disse ao Valor que até o fim do ano espera transformar a instituição de fomento no "banco mais transparente do mundo". Na semana passada, Montezano definiu um novo desenho para o BNDES, separando as áreas de negócios daquelas de apoio e de controle interno. A nova estrutura das superintendências busca melhorar aspectos ligados à conformidade (compliance, no termo em inglês).
Em entrevista na sede do banco, na sexta-feira, Montezano disse ter tomado conhecimento de operação de crédito feita pelo BNDES com a JBS S.A, em 2005, que resultou em desconto "não validado contratualmente" na taxa de juros cobrada pelo banco. O empréstimo foi para a compra da Swift Argentina pela JBS e teria resultado, segundo ele, em perda para o banco de R$ 180 milhões. Depois da entrevista, o banco atualizou a informação. Disse que o prejuízo teria sido de R$ 70 milhões, a valores corrigidos. Os R$ 180 milhões consideram encargos por inadimplência. Procurada, a JBS disse que "cumpriu com todas as condições contratuais do empréstimo firmado com o BNDES à época, saldando integralmente suas obrigações nos prazos devidos, e recebeu plena quitação do referido empréstimo pela instituição".
Montezano também adiantou seus planos de médio prazo para o BNDES. Em até cinco anos quer fazer o banco aumentar a sua inadimplência, que é muito baixa. "É normal porque faz mais operações, tem um pouco mais de inadimplência, mas acessa mais devedores, ganha mais dinheiro no spread de operação." Ele disse ainda que estuda pacote de medidas e ações para tornar o banco mais transparente.
O executivo trabalha com cinco metas: explicar a suposta caixa preta do BNDES até 16 de setembro, acelerar o desinvestimento da BNDESPar, transformar a instituição em prestadora de serviços para o setor público, definir plano trianual com orçamento e revisão das dimensões do banco, e devolver R$ 126 bilhões ao Tesouro este ano. Informou que, até agora, foram restituídos R$ 84 bilhões e que os R$ 42 bilhões que restam serão repassados no quarto trimestre.
Ele afirmou que o banco tem um time dedicado à recuperação judicial da Odebrecht, na qual o BNDES tem créditos de R$ 8 bilhões, e disse que o banco vai se orientar pelo estatuto vigente para analisar o pedido do governo de antecipação de dividendos. O estatuto reserva 40% dos lucros para a própria instituição. Com informações do Valor.