Publicado em 25/08/2006Adriano Garcia
Jornalista, Editor do Pecuária.com.br
A equipe editorial do Pecuária.com.br já havia, há muito, restringido a cobertura de assuntos relacionados à campanha eleitoral deste ano, dada à absoluta ausência de propostas concretas relacionadas ao agronegócio vindas dos principais candidatos à Presidência, Câmara e Senado. Assistir à propaganda eleitoral ou acompanhar a imprensa neste sentido tem sido uma tarefa inútil para o setor.
Porém, não é possível ignorar o artigo do colunista Kennedy Alencar (clique aqui para lê-lo), publicado hoje pela versão online do jornal "Folha de São Paulo". Nele, o jornalista avalia que, apesar das questões éticas, "no atacado Lula acertou nas questões econômica e social".
Certamente, com sua ótica urbana focalizada nos setores representados predominantemente na capital paulista, o jornalista não levou em consideração o agronegócio como "questão econômica" dos dias atuais. Ignorou a devastação de uma região inteira na fronteira do Mato Grosso do Sul e Paraguai, que quase diariamente tem seus problemas publicados neste site, causados pelo ressurgimento da febre aftosa na área. A doença reapareceu ou pela falta de verbas para defesa animal, ou pela inexistente vigilância de fronteira, ou por ambos - responsabilidades do Governo Federal.
Publicamos uma matéria onde técnicos do MAPA mantiveram o fechamento das mesmas áreas sul-matogrossenses por mais tempo, pois os criadores, desconfiados da competência do governo, simplesmente revacinaram o rebanho, temerosos de novos abates. Logo em seguida um segundo aumento, em questão de semanas, da pauta tributária do boi, foi decretado pelo governo estadual, formado por aliados do presidente.
É uma crise difícil de ignorar. Os embargos (russo e europeu) permanecem para as principais regiões produtoras do Brasil, prejudicam as exportações (das quais o agronegócio é, ainda, predominante) e fazem a alegria daqueles que lucram com a arroba depreciada e o preço sempre crescente na ponta do varejo.
Enquanto isto, do governo somente lemos que os projetos para o setor resumem-se à revisão dos índices de produtividade.
Onde está o "bom governo"?
Talvez no patrimonialismo crescente do partido oficial, onde procura-se ampliar o "socialismo para poucos" que faz parte da história brasileira desde o império: ótimos salários e aposentadorias para o funcionalismo sem cobrança por eficiência, "Bolsa-Escola" sem fiscalização de contrapartidas para a clientela eleitoral, aposentadorias baixíssimas para aqueles que contribuíram a vida inteira para o INSS e a conta, como sempre, sendo "socializada" para o restante da sociedade, via déficit público coberto com mais impostos e juros altos.
Não é sem razão que assistimos ao aumento da criminalidade. Se é tão fácil conseguir "benefícios sociais" sem grande esforço e contrapartida, se a invasão criminosa de terras não é punida, mas recompensada, onde está o valor da ética do trabalho?
Não vamos mencionar os escândalos políticos recentes, pois o candidato Lula já está convencido de que, destes, está absolvido.
Com a palavra, o eleitor.