Publicado em 20/05/2019Uma gigante do setor de alimentos, a Predilecta, ainda sofre com os efeitos da greve dos caminhoneiros. Prejuízos foram sentidos não só à época pela suspensão da entrega das matérias-primas às fábricas e do produto final aos clientes, mas também depois, no faturamento da companhia. O resultado ficou 20% menor do que o total contabilizado no mesmo período de 2017. Para driblar a alta do frete rodoviário, uma consequência da greve, a empresa investiu R$ 15 milhões na compra de mais de 25 caminhões para aumentar a frota própria.
A Predilecta é a maior processadora de goiaba vermelha do mundo e a maior empresa nacional de tomate e milho verde"
A compra dos novos veículos foi feita 80% por financiamento de bancos privados e 20% de recursos próprios. Com a aquisição, a empresa aumentou o número de veículos de 150 para 180 caminhões. Antes, apenas 55% do transporte dos produtos era feito com veículos próprios e, agora, esse percentual subiu para 70%.
O diretor da Predilecta, Bruno Trevizaneli, avalia que os prejuízos da paralisação dos caminhoneiros são “incalculáveis”. Ele, no entanto, considera legítima as reivindicações dos profissionais por melhores e mais justas condições de trabalho. “Na época, o frete subiu 30% em uma semana. Imagine mandar uma carreta para determinada região pagando de frete 30% sobre valor da mercadoria. Fomos obrigados a deixar de vender para alguns locais”, explica.
A companhia não tem previsão de adquirir novos veículos em razão da retração do mercado de consumo. Se a situação econômica melhorar, porém, não está descartada nova compra. Conforme o diretor, a solução é a mais adequada pois os produtos comercializados são de baixo valor agregado, o que impede a Predilecta de repassar o reajuste no frete para o consumidor final. A empresa é a maior processadora de goiaba vermelha do mundo e a maior de atomatados e de milho verde do Brasil.
Prejuízos
Trevizaneli explica que, normalmente, o setor de conservas tem crescimento de 5% a 6% ao ano. Somente no primeiro quadrimestre do ano passado, porém, foi registrado crescimento de 30% se comparado com igual período de 2017. Já em maio, por conta do bom desempenho verificado nos primeiros meses, a expectativa era alta, mas a greve teve efeito contrário.
“Ela [greve] ocorreu no pior momento porque vínhamos de uma crescente. Para nós, foi muito ruim. No mês da greve nosso faturamento foi 20% menor do que em maio de 2017, uma diferença de R$ 55 milhões. Então, para retomarmos o crescimento é praticamente impossível”, contabiliza.
À época, até o mesmo o transplantio de tomate rasterio, usado para produção de molhos, ficou prejudicado nas plantações da companhia porque os caminhões de sementes não conseguiam chegar às propriedades rurais. Além disso, as matérias-primas, como tomate, milho e goiaba, ficaram impedidas de chegar às fábricas. Nas plantas da empresa, foi registrada falta de latas, embalagens, caixas plásticas, papelões, rótulos, vidros e açúcar.
Como na semana da paralisação o plantio foi suspenso, no período subsequente, às matérias-primas também faltaram. “Pelo nosso histórico, no segundo semestre de cada ano nossas vendas são aquecidas, o que significa que quando deveríamos começar a nos recuperar da greve, faltou insumos do campo porque não tínhamos plantado”, acrescenta Trevizaneli.
Conforme o diretor, nem mesmo o fim da greve foi capaz de resolver os problemas. “Depois que a greve acabou, por pelo menos duas semanas seguidas, as fábricas ficaram rodando ociosas porque demorou para que o ritmo de chegada de insumos fosse restabelecido. Os próprios caminhões que compramos demoraram três meses para chegar porque as entregas das montadoras também foram prejudicadas”, lembra.
Frota própria
Não foi só a empresa de alimentos que decidiu investir em frota própria no período pós-greve. O grupo G10, conglomerado de empresas de transporte com sede em Maringá (PR), desembolsou, de uma só vez, R$ 165 milhões e comprou 300 caminhões da Scania. Foi a maior compra da história da empresa em um ano e a segunda maior da fabricante no Brasil. Até então, a Amaggi ocupava o posto de maior compradora brasileira de caminhões da marca, também pela aquisição de 300 veículos. Com informações do Globo Rural.