Publicado em 09/11/2007Adriano Garcia
Editor do Pecuária.com.br
Falta visão de longo prazo. Esta é uma constatação fácil de se chegar baseado no que vimos nos últimos anos. O pânico tomou conta do mercado após a crise da aftosa de 2005: produtores liqüidando rebanho por qualquer preço, genética apurada após anos de trabalho sendo vendida a preços baixíssimos, como se o apocalipse estivesse aí, logo após a porteira. Muitos reaplicaram suas economias, transformadas em dinheiro vivo após a venda do rebanho, na nova (e literal) salvação da lavoura: a cana-de-açúcar. Como sempre ocorre nestes casos, a maioria perdeu (e perderá) dinheiro novamente.
O Brasil há alguns anos tem mudado. A estabilização da economia acabou com a necessidade de urgência que existia no passado. Hoje não há mais emergência na preservação do valor do dinheiro, a inflação está em níveis razoáveis, porém ainda há um longo caminho para que possamos falar o mesmo das taxas de juros. O agronegócio é uma atividade por si só cíclica, com altas e baixas que ocorrem ao longo do tempo, o que demanda planejamento de longo prazo. Casos imprevistos, como a crise da aftosa, não estão nem estiveram no horizonte de ninguém, embora a inoperância do Estado no Brasil não seja nenhuma surpresa. O empresário rural que pretende lucrar sempre em sua atividade deve levar em consideração este fator, preparando adequadamente seu negócio para o ciclo de baixa durante o ciclo de alta.
Quem não se lembra da "exuberância" do mercado de touros e doadoras nos anos de 2004-2005? Muita gente entrou no mercado naquela época, pagando por animais PO preços que até hoje estão altos demais para a realidade. Muitos destes são os mesmos que, durante a crise de 2005-2006-2007, venderam seu rebanho a qualquer preço para entrar na cana-de-açúcar. Reclamando do monopólio dos frigoríficos, fecharam contratos de exclusividade com usinas de açúcar, saindo de um mercado concentrado para cair em outro. A mesma abundância de matéria-prima para pouco comprador que existia há um ou dois anos no boi (e passa, agora, por uma reversão de tendência) passará a ocorrer na cana, trazendo novos e renovados prejuízos para quem mudou completamente de ramo e o culpado será o agronegócio.
Diversificação e perseverança são as palavras-chave para a solução. Para aqueles que receiam os ciclos de baixa, uma associação de diversas atividades na mesma propriedade pode ser a solução ideal. Para outros, que não dispõem de área suficiente ou capital para trabalhar mais de uma atividade, a receita é paciência. Antes agüentar um ou dois anos de baixa para recuperação do que fazer investimentos pesados para retreinamento de pessoal, compra de equipamentos e mudança de toda a atividade de fazenda, para, depois, descobrir que vendeu na baixa para comprar na alta. De novo.