Publicado em 01/06/2020No Dia Mundial do Leite (comemorado hoje,1º de junho), os produtores encaram um momento de mais desafios do que comemorações. Com alto custo de produção e preço do leite em baixa, as mudanças de cenário têm sido diárias e os pecuaristas têm se esforçado para superar os obstáculos.
O analista de agronegócios do Sistema FAEMG, Wallisson Lara, lembra que, para os produtores, os primeiros dias da pandemia foram de muitas dificuldades no escoamento da produção (inclusive com estradas fechadas e descarte do leite); ao mesmo tempo em que os consumidores corriam às compras. Crescia a demanda, especialmente, por derivados lácteos de mais longa validade, como o leite em pó e o UHT, que rapidamente registraram preços mais altos no varejo. “E pouco, ou nenhum, acréscimo ao produtor”, lembra. “O mercado logo mostrou que o movimento foi um ‘voo de galinha’ e o consumo declinou. Não sabemos os efeitos que a crise vai gerar no setor leiteiro, e temos tido dificuldades no planejamento de custos e investimentos, por exemplo, pois as informações e o cenário mudam a cada instante.”
Dois meses se passaram e a entrega do leite ordenhado aos laticínios já está normalizada na maior parte do estado. Mas o fechamento do setor foodservice (bares, restaurantes e lanchonetes) ainda dificulta a comercialização da produção para alguns segmentos, como o de queijos. Associações de queijeiros artesanais têm, inclusive, pleiteado tarifas especiais para o envio, pelos correios, dos produtos vendidos on-line.
“Para completar, o cenário da pecuária leiteira hoje é de elevados custos de produção. A relação de troca (valor do leite produzido x custo com alimentação do rebanho) é bastante desfavorável ao produtor. Em abril, foram necessários 47,6 litros de leite para a aquisição de 60 kg de mistura (ração). Para se ter uma ideia, no mesmo mês de 2019, essa relação ficava em 32,7 litros”, diz Wallisson Lara.
Maior produtor do país, Minas Gerais ordenhou 8,9 bilhões de litros de leite em 2019 (ou 26,4% do total nacional, que foi de 33,8 bilhões de litros). O valor bruto da atividade (VBP) no estado ultrapassou R$ 9,5 bilhões. Uma das mais importantes e tradicionais cadeias do agro mineiro, a pecuária de leite está presente em todas as regiões de Minas. São mais de 3 milhões de vacas, em 225 mil propriedades rurais mineiras.
A produtividade média do estado é de 2.840 litros por animal ao ano (ou 9,3 litros/vaca/dia). Esse indicador é um dos que mais tem avançado ao longo dos anos, revelando o investimento dos pecuaristas em melhoramento genético, nutrição animal e cuidados diversos com o rebanho. “A genômica e a nanotecnologia têm ganhado espaço. Mas esse aumento da produtividade mineira é, sobretudo, resultado de assistência técnica continuada”, explica o vice-presidente do Sistema FAEMG, Rodrigo Alvim.
O Balde Cheio (programa nacional da Embrapa gerido em Minas pelo Sistema FAEMG) e o ATeG - Assistência Técnica e Gerencial, do SENAR, são algumas destas iniciativas que auxiliam os pequenos produtores, gratuitamente, a alcançar maior produtividade e redução de custos. “Os técnicos orientam os produtores para o uso de técnicas e inovação de baixo ou nenhum custo, combinando e otimizando fatores produtivos que já têm em suas propriedades. Há casos em que o aumento da produção superou 1.000%. Em um país em que 80% dos produtores de leite estão em pequenas propriedades familiares, a assistência técnica tem sido fundamental para melhorar cada vez mais o trabalho e a renda de milhares de produtores”, diz Rodrigo Alvim.
Com a produtividade em alta, o desafio do setor é a negociação com os laticínios. Em atividade há pouco mais de um ano, o Conseleite/MG (Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado de Minas Gerais) era um sonho antigo do setor. Uma das atribuições do colegiado é calcular um valor referência para o leite padrão no estado, reduzindo conflitos entre produtores e indústria que tiveram início na década de 1990, com a fim do tabelamento do preço do leite no país.
O presidente da Comissão Estadual de Pecuária de Leite da FAEMG e membro técnico do Conseleite/MG, Eduardo Pena, explica que o valor de referência serve como uma base para a livre negociação. O índice é calculado mensalmente por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná, a partir das informações colhidas pelo Conselho e de fórmulas matemáticas, que levam em conta os custos de produção da matéria-prima leite e de diversos derivados lácteos, bem como o preço de venda destes produtos, que é a capacidade de pagamento das indústrias.
“O valor de referência pretende representar, com objetividade e transparência, um valor justo para a remuneração da matéria-prima tanto para os produtores rurais quanto para as indústrias. E vem sendo importante tanto para o registro dos movimentos do mercado como para o planejamento do produtor em um curto prazo”, diz Eduardo Pena. Com informações da FAEMG.