Publicado em 17/11/2020A suposta detecção de Covid-19 em embarques de carnes provenientes da Argentina e a decisão posterior da China de suspender os frigoríficos supostamente culpados pelo contágio sacudiu as águas do segmento exportador do país vizinho. Depois do primeiro caso exposto na semana passada, agora se somaram duas novas situações de suposta contaminação com o vírus por alegado manejo inadequado por comercializadores argentinos.
A utilização de termos como "supostos" e "aparentes" não são por acaso: segundo fontes do mercado frigorífico local, a presença de coronavírus foi completamente descartada em qualquer movimento feito na Argentina.
Em compensação, as mesmas fontes observam na manobra chinesa uma estratégia de "amassar" o preço do produto até que seja confirmada a continuação da circulação descontrolada do vírus na Ásia.
Miguel Schiariti é presidente da Câmara da Indústria de Carnes da Argentina (CICCRA). Em entrevista ao iProfesional, criticou a decisão chinesa de suspender as compras de frigoríficos como o Gorina, de La Plata, acusado pela China de exportar cargas de carne com Covid-19.
Miguel defende que somente o tempo de viagem para transporte do produto até o porto chinês erradicaria qualquer possibilidade de sobrevivência do coronavírus na mercadoria.
"Os achados vêm ocorrendo nas caixas, sobre o material já nacionalizado. É dizer que passou pela alfândega e em seguida circulou por diferentes depósitos. Um envio de carga à China demora entre 45 e 60 dias dependendo do porto de destino. Não sou epidemiologista, mas basta ver que uma quarentena dura duas semanas. O vírus não pode superar o tempo da viagem", afirmou.
"A primeira leitura que fazemos é que, com estes movimentos, a China quer é baixar os preços. A segunda corresponde ao momento que vive na pandemia: não querem reconhecer que têm um enorme problema de contágios de Covid-19. Está tentando ocultar que o cenário sanitário está descontrolado e a circulação da enfermidade é enorme", adicionou.
Estratégia não tarifária
Segundo Schiariti, há tempos "a China começou a ensaiar barreiras não-tarifárias" e deu como exemplo a exigência de certificados de "livre de Covid-19" feitas por autoridades daquele país para alimentos importados.
"Argentina não deu importância a este pedido e agora acontecem essas situações. Mas o material genético do vírus se encontra em caixas e não no produto em si, estamos certos de que o problema sanitário não teve origem em nosso país.", disse.
"A China também começou a criar dificuldades com o Brasil e o Uruguai. A realidade é que se continuarem a insistir com essas sanções aos frigoríficos e exigências de selos e outros vão ter como resposta o contrário do que procuram: a carne vai ficar mais cara. E vão receber menos quantidade por reduzir o número de fornecedores. Desse jeito, os chineses estarão comprando um problema de longo prazo", avisou.
Consultadas pelo iProfesional, fontes ligadas ao SENASA (o SIF da Argentina) assinalaram diversas irregularidades na forma em que os chineses detectariam Covid-19 nos embarques de carne argentina. "Isto ocorreu num contexto que é bastante desorganizado por parte da China, já que não é a alfândega ou o serviço sanitário nacional que faz este tipo de análise, são municípios isolados. São feitos uma vez que a mercadoria já está nacionalizada", indicaram essas fontes.
"Não parece um problema sanitário e sim bem mais comercial. Talvez, como se diz no setor, para baixar o preço da carne. É estranho que estas informações venham de municípios e não do nosso equivalente chinês", agregaram. Com informações da iProfesional.