Publicado em 09/02/2021Dez das 19 linhas de financiamento de crédito rural operadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estão fechadas, faltando ainda cinco meses para o fim do Plano Safra 2020/21.
Os R$ 6 bilhões disponibilizados para o Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota), por exemplo, duraram menos de quatro meses. O banco suspendeu pedidos de financiamento desta linha “em razão do nível de comprometimento dos recursos disponíveis” em novembro do ano passado, reabriu em 4 de janeiro e voltou a fechar em apenas 3 dias.
Outras oito linhas de financiamento para a agricultura empresarial estão sem recursos atualmente. Na agricultura familiar, foram fechados dois programas e seguem abertos outros cinco, que têm orçamento total de R$ 1,4 bilhão.
Tiago Luiz Peroba, chefe do Departamento de Clientes e Relacionamento Institucional da Área de Operações e Canais Digitais do BNDES, diz que as linhas são suspensas quando se chega a 80% ou 85% do orçamento autorizado. “Não podemos ultrapassar o orçamento. Por isso, suspendemos, avaliamos operações aprovadas e ainda não finalizadas e, então, vemos se é possível reabrir.”
No caso do Moderfrota, Peroba afirma que a análise já mostrou que não há mais dinheiro. “A linha só vai reabrir se houver aporte de novos recursos pelo governo, mas não há nenhuma previsão de que isso vá ocorrer.”
Ele cita seis motivos para explicar o esgotamento precoce das linhas de crédito: demanda reprimida de investimentos da safra anterior, expectativa de redução das taxas com a queda da Selic, câmbio favorável às exportações, safra recorde de grãos, demanda forte no mercado externo e demanda interna maior por conta do auxílio emergencial.
Segundo o executivo, houve um crescimento superior a R$ 2 bilhões ou 16% nas linhas de crédito rural operadas pelo banco, que têm taxas entre 4,5% e 7,5%, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Dados do Banco Central mostram que a demanda total por crédito rural de julho de 2020 a janeiro de 2021, relativo a sete meses da safra, atingiu R$ 135,3 bilhões, alta de 17% em relação a igual período da safra anterior. Foram aprovados 1.283.675 contratos, com um valor acumulado de R$ 135,32 bilhões. O destaque continua sendo a Região Sul, com R$ 46,92 bilhões, seguida pelo Centro-Oeste (R$ 34,30 bilhões) e Sudeste (R$ 33,08 bilhões).
Para Ademiro Vian, especialista em crédito rural e diretor do IBDAgro (Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável do Agronegócio), muitas linhas do BNDES acabaram rápido porque faltou análise do cenário na pandemia da Covid-19 para estabelecer o volume de crédito necessário para o Plano Safra. Vian diz que o produtor acelerou investimentos porque ganhou muito dinheiro no ano passado, aproveitando o câmbio extremamente favorável para a exportação e o aumento da demanda. “Além disso, ele sabe que a taxa de juros vai aumentar e vê que o preço das máquinas e equipamentos está subindo devido à escassez de matéria-primas, como o aço.” Com informações do Globo Rural.