Publicado em 26/10/2021Diante da insaciável demanda por carne bovina de China e Estados Unidos em mais um trimestre de dólar fortalecido, os frigoríficos exportadores devem apresentar balanços robustos e resultados recordes para o período entre julho e setembro, na visão de especialistas, entidades do setor e bancos.
Há cerca de um mês, o Morgan Stanley divulgou um relatório apostando no superciclo da proteína bovina, na esteira do aquecimento dos mercados supracitados. “Simplesmente não há oferta de carne bovina suficiente em todo o mundo para atender à demanda de rápido crescimento”, avaliou o relatório encabeçado por Ricardo Alves.
Outro fator que deve alavancar os resultados dos frigoríficos é o arrefecimento do arroba do boi gordo, que abriu o terceiro trimestre cotado a R$322,53 e fechou em R$289,54. Para Oswaldo Ribeiro, presidente da Associação de Criadores do Mato Grosso, Acrimat, a queda ocorreu em razão do aumento do custo da ração em conjunto com a crise hídrica, forçando produtores sem pasto a liberarem o gado “a qualquer preço”, avalia.
China
Dados recentes apontam que o consumo de carne bovina no gigante asiático é de aproximadamente 5 quilogramas por habitante, disse o head de Agro da Criteria Investimentos, Rodrigo Brolo. Como base de comparação, os brasileiros atingiram o menor consumo desde 2008, a 36 quilogramas anuais por pessoa, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, Abiec.
Mas Brolo diz que autoridades do setor esperam uma demanda chinesa maior para os próximos anos. “Existe uma projeção da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, de que esse consumo seja de 9 ou 10 quilos em 2030”, ressalta.
A China também aproveitou o último trimestre para recompor os estoques, acelerando a importação de proteína bovina do Brasil. Contudo analistas do BTG Pactual temem que as recentes restrições de exportação do Brasil ao país asiático, que já duram seis semanas, pesem sobre futuros resultados dos frigoríficos.
Ao comentar as projeções para a Minerva Foods, o relatório liderado por Thiago Duarte cita que o cenário será de “uma dinâmica de ganhos mais fraca, especialmente caso o fluxo de comércio entre Brasil e China não se normalize em breve”.
Problemas logísticos
Desde o segundo trimestre, os problemas logísticos apareceram como a “pedra no sapato” para as empresas do setor. Brolo diz que tudo começa com o aumento do frete rodoviário, causado pela alta do diesel, ao mesmo tempo em que o custo por contêineres de transporte marítimo atingia seu pico.
Os frigoríficos dependem de contêineres refrigerados para aumentar a exportação e, segundo o head de Agro da Criteria Investimentos, há uma escassez desse produto específico no mercado. Ribeiro explica que os contêineres refrigerados “estão quase totalmente na mão dos chineses, após comprarem a Maersk [Container Industry]”, uma das principais fabricantes desses contêineres.
Há um mês, a China International Marine Containers, CIMC, pagou cerca de US$ 1 bilhão pela empresa. Há de se ressaltar que a China enfrentou desafios com a variante delta do coronavírus, de forma que muitos contêineres ficaram parados em portos. “A logística hoje pode ser impactada, mesmo com o arrefecimento da pandemia”, avalia o presidente da Acrimat. Com informações do TC.