Publicado em 27/10/2021Após um ano de negociações, as fabricantes de lácteos Betânia e Embaré, dona da marca Camponesa, assinaram a fusão de suas operações, que dá origem a uma empresa de R$ 4 bilhões por ano em faturamento. De imediato, a companhia pretende ganhar mercado nas regiões em que tem baixa presença, como o Sudeste e o Norte, além de fortalecer a linha de queijos. No longo prazo, o plano é liderar um processo de consolidação no segmento lácteo brasileiro.
Ainda sem nome até que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) se manifeste sobre a transação, a nova Betânia-Embaré será uma empresa com controle compartilhado entre três sócios, que terão aproximadamente um terço do capital cada: o Arlon, private equity que era minoritário na Betânia e estruturou a operação; a família Girão, fundadora da Betânia; e a família Antunes, dona da Embaré. Todas as marcas - Betânia, Bat Gut, Betânia Kids, Embaré e Camponesa - serão mantidas e a gestão comercial e de distribuição continuará separada.
Com a junção dos negócios, a nova companhia se torna a quinta maior no mercado de lácteos em faturamento, atrás de Nestlé, Lactalis, Italac e Laticínios Bela Vista (dona da Piracanjuba), segundo estimativas de mercado. A operação nasce com capacidade produtiva de 4,8 milhões de litros de leite por dia, portfólio de 220 produtos distribuídos para mais de 100 mil pontos de vendas no mercado interno e exportados para 45 países. A Betânia-Embaré possui 3,6 mil empregados em nove fábricas, 15 centros de distribuição, três filiais, nove laboratórios e um armazém.
Juntas, as companhias somam endividamento líquido de R$ 400 milhões. A transação não incluiu aporte de novos recursos, mas essa possibilidade não é descartada. Bruno Silva, sócio do Arlon, diz que a empresa também poderá recorrer a uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) para se capitalizar e fazer as aquisições, mas ainda não há prazo para isso ocorrer.
Primeiro, a empresa precisará se provar um bom negócio no mercado, que guarda na memória casos de insucesso como Parmalat e LBR, além da tentativa frustrada de consolidação feita pela BRF. “O mercado não gosta do setor. É volátil, tem margens apertadas e repleto de histórias que não deram certo. Mas Betânia e Embaré são casos de sucesso e as sinergias darão fôlego para a empresa se tornar de fato nacional”, afirma Silva.
Diferenciais
Para ele, os diferenciais da nova empresa são as capacidades de captação e de distribuição para acomodar os itens mais rentáveis em diferentes momentos. “A marca é importante para qualquer empresa que quer consolidar o mercado, mas só a marca não resolve”.
Como parte do acordo, Bruno Girão, atual presidente da Betânia, ficará na presidência da nova companhia. A família Antunes vai indicar o diretor financeiro. A empresa terá um conselho de administração com sete membros: dois representantes dos Girão, dois do Arlon, dois dos Antunes e um conselheiro independente. De acordo com Girão, as companhias têm portfólios complementares. Enquanto a Betânia é forte em produtos líquidos como leite UHT e iogurte, a Embaré tem presença maior no leite em pó.
Alexandre Antunes, CEO da Embaré, disse que, com a união, será possível fomentar a Betânia com produção de leite em pó e levar parte do portfólio para a região Nordeste, bem como trazer para Minas Gerais e outras praças do Sudeste linhas da Betânia, como os iogurtes. Segundo Antunes, a marca Camponesa de leite em pó tem presença forte em Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Maranhão e Piauí. Já a Betânia, segundo Girão, lidera o mercado de leite longa vida no Nordeste como um todo.
Para Girão, o segmento lácteo ainda é bastante pulverizado no Brasil e o nível de concentração de mercado da nova empresa não deve preocupar o Cade. Com informações do Valor.