Publicado em 20/05/2022As perspectivas dos três maiores frigoríficos de carne bovina com operações no Brasil - JBS, Marfrig e Minerva - indicam que, nos próximos meses, a volatilidade dos preços do boi gordo tende a ser menor, e o viés é de baixa.
Em teleconferências com analistas sobre os resultados do primeiro trimestre, executivos dessas companhias reforçaram que o ciclo da pecuária está entrando em fase de maior disponibilidade de animais, o que é mais favorável a seus negócios.
A perspectiva é um bálsamo para a indústria, que tenta aumentar suas margens mas encontra dificuldade para repassar preços ao consumidor - especialmente no Brasil. A compra de gado representa de 70% a 80% dos custos dos frigoríficos.
“O volume de animais ofertados já melhorou bastante. Este é um ano de transição, e o movimento deve se consolidar em 2023”, afirma o analista Fernando Iglesias, da Safras & Mercado. Segundo a consultoria, a arroba do boi gordo deve se firmar entre R$ 270 e R$ 300 no ano que vem.
Dados de abate no primeiro trimestre, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), corroboram a tese de aumento gradual da oferta: foram para o gancho 6,9 milhões de bovinos entre janeiro e março, quase 5% a mais do que nos primeiros três meses de 2021.
Os preços em São Paulo também dão indícios de uma situação mais confortável para os compradores de gado. Ontem, a arroba valia, em média, R$ 311,50 no mercado paulista (livre de Funrural), segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Em relação ao pico histórico, de 24 de março deste ano (R$ 352,05), o declínio chega a 11,5%. Quando se compara como preço de um ano atrás, porém, a arroba do boi está 0,7% mais cara.
No primeiro quadrimestre deste ano, as exportações brasileiras de carne bovina cresceram 30% em relação ao mesmo período de 2021, de acordo com a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Cerca de 732 mil toneladas deixaram o país. Em receita, o crescimento foi de quase 60%, para US$ 4 bilhões. O mercado externo é importante para a indústria engordar margens e contornar o fraco consumo da proteína no Brasil.
Olhando para a China, maior importadora da proteína, os frigoríficos não estão preocupados com a recomposição do rebanho suíno nem com as restrições sanitárias contra a covid-19. Segundo os dados da Abrafrigo, o país asiático importou 37,2% mais carne bovina do Brasil entre janeiro e abril, ou 344,4 mil toneladas.
Fernando Iglesias lembra que as importações chinesas de carne bovina do Brasil estão crescendo em um momento em que o país asiático está comprando menos proteína animal do restante do mundo. “É simples: somos a melhor alternativa. Não há outro país com preço e produção como o nosso”, diz.
Conforme cálculos da Safras & Mercado, a arroba do boi australiano custa US$ 120 dólares. Na Argentina, no Uruguai e nos Estados Unidos, o preço ronda US$ 80. Já o boi brasileiro é vendido por cerca de US$ 60 a arroba.
“O quadro é positivo para os próximos meses”, disse a analistas o CEO da Minerva, Fernando Queiroz, mencionando que a proteína bovina caiu no gosto do povo chinês e que seu consumo não está mais atrelado diretamente à falta de carne suína.
Miguel Gularte, CEO da Marfrig para a América do Sul, disse que os preços seguem estáveis e têm até subido. “O consumo previsto para maio e junho é bastante forte. Não vemos, por enquanto, aspectos preocupantes”, frisou.
CEO global da maior companhia de alimentos do mundo, a JBS, Gilberto Tomazoni afirmou, também em teleconferência com analistas, que “a demanda seguirá firme”. Com informações do Valor.