Publicado em 08/11/2024O aumento no preço do boi gordo pressiona os consumidores brasileiros e complica o trabalho do Banco Central, que vem elevando a taxa de juros para conter a inflação. De acordo com a LCA Consultores, a carne bovina deve registrar uma alta de 7,9% no último trimestre do ano, a maior desde 2020, devido ao aumento de custo enfrentado por frigoríficos, como a JBS, que vive a maior elevação no preço do gado em quase 30 anos.
Esse cenário adiciona dificuldades ao Banco Central, que recentemente subiu a Selic para 11,25% em sua segunda alta consecutiva, em meio à disparada dos gastos públicos. A carne bovina, item essencial na dieta dos brasileiros e politicamente importante para o governo Lula, pode impactar também o preço de outras proteínas, como frango e carne suína.
Segundo Andrea Angelo, estrategista da Warren Rena, a carne bovina é fundamental para o IPCA de alimentos, que deve fechar o ano com alta de 4,6%, acima da meta do BC de 3%. Ela projeta um aumento de 8% no preço da carne bovina este ano e mais 14% em 2025.
No fim do ano, a demanda por carne cresce com o pagamento do 13º salário e as festividades de Natal e Ano Novo. O preço do gado subiu 33% nos últimos dois meses, o maior aumento em 27 anos, devido à seca que afetou as pastagens e reduziu o número de animais para abate. A situação pode se agravar com a expectativa de queda na oferta de gado a partir de 2025, após abate elevado de matrizes em anos anteriores, conforme a consultoria Datagro.
A economista Luciana Rabelo Ribeiro, do Itaú, estima que a carne bovina terá alta de 15% em 2025, afetando outros alimentos. “Quando a carne sobe, impacta também outras proteínas e até o preço do leite”, explica.
As exportações de carne bovina brasileira cresceram 31% este ano, beneficiadas pela desvalorização do real, que aumenta a competitividade da carne no mercado externo, mas gera concorrência com o mercado doméstico.
Para os frigoríficos, o aumento no custo do gado é um desafio, pois nem todos os custos conseguem ser repassados ao consumidor final. Leonardo Alencar, da XP, comenta que tanto frigoríficos quanto varejistas estão sendo "espremidos" pela alta nos preços e questiona o limite de absorção do consumidor final.