Publicado em 16/12/2008Kátia Abreu
Quando me vi eleita – por 26 dos 27 votos das federações estaduais, em uma manifestação espantosa de confiança da classe – para a presidência da CNA, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, desfiz uma dúvida que nunca havia confessado: a minha visão da classe dos produtores rurais, progressista, moderna, legalista e democrata, aberta ao diálogo e a inovação, não era uma idealização, mas um pensamento dominante.
Em caso contrário, eu não seria hoje Presidente da CNA, posto que desde que ingressei no movimento, em 1993, não fiz outra coisa a não ser lutar para remover os preconceitos que isolaram, pelos séculos dos séculos, os produtores rurais. Foi essa constatação que me animou a adotar a divisa para o meu mandato que se inicia solenemente nesta terça-feira, 16 de dezembro de 2008: “Afirmação & Ruptura.”
Os produtores rurais brasileiros, que representam 24% do Produto Interno Bruto, empregam 37% da força de trabalho e geram 36% das exportações, podem ser isolados social e politicamente como protótipos do atraso, da fortuna injusta, da propriedade usurpada e do poder feudal? Não.
O setor da economia, a que se atribui o abastecimento da população e ainda contribui para as exportações com mais de 170 milhões de toneladas, o excedente de consumo interno, pode ser acusado de toda sorte de culpas e anedotas pelo atraso econômico, social, cultural, tecnológico e, principalmente, político do País? Não.
Portanto, vamos afirmar e firmar nosso papel e exigir que nossa imagem seja restaurada, o que representa ao mesmo tempo uma ruptura. Não temos porque assumir resquícios dos métodos coloniais, de que não somos sequer herdeiros. Queremos romper com a imagem injusta.
Somos o que somos e não quem nos imaginam que somos. É inaceitável que os empresários rurais, por se dedicarem à atividade econômica da agricultura, sejam apontados como protótipos do reacionarismo. Nenhum setor da economia é mais progressista e modernizador.
A associação desses dois conceitos complementares contidos no binômio “Afirmação & Ruptura” é muito mais do que uma marca, resume um programa a que dedicaremos o triênio da nossa presidência da CNA.
Em tempos de crise, que chegam justamente quando iniciamos nossa jornada, a importância de afirmar princípios e objetivos é tão importante quanto a necessidade de exorcizar todo e qualquer tipo de derrotismo e, principalmente, das injustiças e desestímulos que pairam sobre uma classe que está na vanguarda da economia, qualquer que seja o ângulo de observação.
Somos forte na diversidade de produtos, significativos no volume de produção, na geração de divisas, na valorização dos salários (com a queda relativa dos preços dos alimentos da cesta básica), na invenção tecnologica – em qualquer terreno em que sejamos avaliados.
E naqueles aspectos em que os erros de poucos se transformam em carapuça para todos vamos ser extremamente agressivos, não defendendo culpados mas promovendo meios para que a ignorância, quando for o caso, seja vencida pela melhor informação.
Ninguém nos tirará das nossas mãos as bandeiras da legalidade, da democracia, da liberdade, da modernidade, da justiça social e do aprimoramento político. Elas são o penhor da nossa afirmação como classe e justificam nossa decisão pela ruptura que a imagem que nos dissocia de tais compromissos.
Kátia Abreu é senadora da República pelo estado do Tocantins e toma posse hoje na Presidência da CNA.